Vamos investir em ações? A bolsa brasileira vem batendo recordes históricos nos últimos meses. Com a expectativa em relação às reformas propostas pelo atual governo para equilibrar as contas do país, somado a um corte gradual na nossa taxa básica de juros, as ações de empresas brasileiras têm se valorizado de maneira considerável. Isso é resultado do maior apetite ao risco pelos investidores brasileiros e estrangeiros, que veem a renda fixa brasileira ter uma rentabilidade cada vez menor. Com isso em mente, como você pode entrar de vez no mundo da bolsa de valores?
Basicamente, existem duas maneiras para começar a se investir em ações. Uma é comprando diretamente os papéis de sua empresa de preferência. A outra é investindo em fundos de ações. No primeiro caso, cabe a você tomar a decisão de investir em determinada ação, independentemente dos motivos que o levaram a fazê-lo. Você fará a gestão, definindo os melhores momentos de compra e venda de seus ativos. Já no segundo, você delega o poder de decisão e gestão a uma equipe profissional. Caberá ao investidor apenas acompanhar a performance do fundo investido e definir se vale à pena ou não continuar investindo nele.
Quanto às questões operacionais e de custos, pode-se investir, nos 2 casos, tanto por meio dos bancos mais conhecidos quanto por corretoras de valores. Mas é importante destacar que as corretoras costumam oferecer melhores condições e custos mais interessantes do que os bancos, além de uma maior variedade de fundos de investimento.
Voltando ao assunto sobre a tomada de decisão para a pessoa que deseja comprar suas próprias ações, nos deparamos com vários caminhos pelo qual o novo investidor poderá percorrer. De maneira prática, vejo 4 maneiras pelas quais os investidores escolhem seus papéis, definindo-os da seguinte maneira: investidor de notícias, investidor de dicas, investidor fundamentalista e investidor técnico.
O investidor de notícias é aquele que compra suas ações com base exatamente em… notícias! Ele acompanha todos os jornais, entra em todos os portais econômicos e decide comprar papéis de setores que aparentemente são promissores. Ele gosta de acompanhar o cenário político para entender quais medidas o governo está tomando e como estas podem influenciar cada setor da economia, se posicionando assim em papéis que “parecem” interessantes. É um tipo de estratégia que, feito de maneira isolada, é extremamente perigosa. Investir apenas na “notícia”, sem entender exatamente o que já vinha acontecendo com as ações escolhidas ao longo do tempo, pode funcionar em momentos muito específicos do mercado. Mas tende a ser uma estratégia perdedora se outras variáveis não forem consideradas. O fato é que todo investidor de longo, médio ou curto prazo deve estar atento a notícias relevantes, mas elas por si só não devem ser a única base de decisão do investidor.
O segundo tipo, e talvez o mais comum, é o investidor de dicas. Este é o tipo de investidor que geralmente não entende muito sobre o mercado financeiro, mas deseja comprar ações. Assim, ele acompanha os analistas de bancos ou corretoras com suas carteiras recomendadas. Tenho duas sugestões para este tipo de investidor. A primeira é procurar por equipes de análise que tenham consistência a longo prazo. É muito comum, hoje em dia, vermos portais econômicos alardeando sobre a carteira de um ou outro analista que teve desempenho sensacional num determinado período. Mas como é o histórico desses analistas nos últimos tempos? Será que eles possuem consistência o suficiente para seguirmos suas recomendações? Portanto, estude o histórico do seu analista de preferência antes de colocá-lo como seu guia para a compra de ações. Quanto à outra sugestão, simplesmente é não seguir nenhum analista e colocar seu dinheiro num fundo de ações. Se é para colocar seu dinheiro em algo que você não entende muito, ou não tem tempo para acompanhar, deixe que um profissional faça este trabalho por você. Pode ser muito mais vantajoso se o fundo escolhido for de boa qualidade.
O próximo tipo de investidor é o fundamentalista. De maneira sucinta, este tipo de investidor busca entender como está a saúde financeira da empresa que deseja investir. Com base nos dados disponíveis nos balanços da empresa, ele utilizará uma série de indicadores onde irá estimar um preço justo para as ações, definindo se elas estão caras ou baratas no mercado. Ele também usará as notícias de maneira muito mais consciente, pois como conhece as finanças da empresa investida, poderá ter uma melhor noção de como ela poderá ser impactada. Esta é a escola de análise mais complexa e mais utilizada pelos grandes investidores. Portanto, o bom investidor fundamentalista tende a ter uma boa performance no longo prazo. Para quem quiser começar a aprender sobre o tema, o portal Infomoney criou um guia sobre o tema. Para acessá-lo, clique aqui. Um website interessante para quem deseja acompanhar os indicadores utilizados neste tipo de análise é o www.fundamentus.com.br.
Por fim, o último tipo de investidor que ganhou espaço no Brasil nos últimos anos é o que utiliza a análise técnica. Seguindo a definição de John J. Murphy, um dos principais autores sobre o assunto, a “análise técnica é o estudo dos movimentos do mercado, principalmente pelo uso de gráficos, com o propósito de prever futuras tendências no preço”. Ou seja, o investidor utiliza o histórico dos preços das ações, colocados num gráfico e com uma série de indicadores. Com isso, tenta se achar padrões para definir os melhores pontos de compra e de venda. Apesar de também utilizada no longo prazo, esta acaba sendo uma ferramenta mais interessante para quem deseja fazer operações com prazos mais curtos, devido às constantes flutuações nos preços. Porém, como nenhum tipo de análise é uma ciência exata, esta técnica também não é infalível. Assim, todo investidor que possua um bom conhecimento em análise técnica e deseja fazer operações mais curtas deve assumir um prejuízo máximo aceitável, caso as expectativas não se confirmem. Hoje existe uma infinidade de material disponível na Internet sobre o tema. Mas caso esteja iniciando e deseje se aprofundar no tema, indico o livro “Análise Técnica Explicada”, de Martin J. Pring. Para finalizar, podemos dizer que o investidor completo seria aquele com profundos conhecimentos em análise técnica e fundamentalista, além de saber interpretar bem as notícias que possam impactar seus investimentos. Afinal, um pouco de conhecimento a mais nunca é ruim. Estude muito antes de entrar no mercado de ações. Ou, se preferir, invista em algum fundo de boa performance no longo prazo. Não seja um aventureiro no mercado, e sim um investidor consciente. Esta é a receita do sucesso.